quinta-feira, 9 de junho de 2011

O Império Mongol

Profª Estela

Originalmente, a Mongólia, território encravado nas estepes da Ásia Central, entre a China e a Rússia, era dividida internamente em vários clãs, que lutavam entre si pelo poder. Até o século XII, esses povos eram chamados de “proto-mongois”, tendo havido entre eles alguns reinos bastante poderosos: o dos xiambei (séculos II e III), o dos ruan-ruan (séculos V-VI) e o dos quitans (séculos X-XII). No final do século XII, havia cinco principais clãs: os mongois, os merquitas, os queraítas, os tártaros e os naimans. Após várias lutas, em 1206, Temudjin, um mongol, saiu vitorioso e foi proclamado Khan, aos 45 anos de idade, numa assembleia geral o grande Quriltay – que reuniu os chefes de todos os clãs. Temudjin unificou o território da Mongólia e fundou o Império Mongol. A partir daí, passou a ser chamado de Gengis Khan, que significa “Senhor muito poderoso” ou ainda “Senhor dos Senhores”. Deu-se início assim à saga do Império Mongol pela conquista de territórios, até 1368, data que marca o fim deste Império.
A máxima extensão territorial alcançada pelo Império Mongol estendia-se de Java e Coreia, no leste, à Polônia no oeste, do Ártico à Turquia ao norte e Pérsia ao sul, tendo conquistado, em sua relativa pouca existência, a maior extensão territorial de um império.

                  A linha vermelha no mapa delimita o território do Império Mongol.

Além da organização do grande exército imperial, que permitiu as conquistas de territórios, Gengis Khan, o fundador do Império Mongol, fez muitas realizações, como: o alfabeto mongol, um código de leis denominado Jasagh ou Yasa e a restauração de grandes rotas de comércio asiáticas da Antiguidade, conhecidas como a Rota da Seda. Gengis Khan faleceu em agosto de 1227, sendo sucedido por seus filhos, que dividiram o império entre si.


                                                          Rota da Seda

Estrutura social e econômica

O povo mongol era nômade e vivia da criação de ovelhas. A sociedade era formada por vários clãs, que constituíam as famílias. O homem era o líder do clã e tinha várias mulheres, filhos, servos e escravos. Cada uma de suas mulheres morava em uma tenda chamada Gers, com seus respectivos filhos.
Não havia uma religião oficial, mas os mongois seguiam o Xamanismo e assimilavam ainda a religião dos povos conquistados. Como observa Leonardo Schiocchet (2011, p. 45), “é importante lembrar que o Império Mongol tornou-se muçulmano durante sua expansão e após o contato com o Oriente Médio”. Havia um código de leis morais e de costumes, ditado pelo próprio Gengis Khan: o Yasa. Entre as normas morais, estavam: amar ao próximo, não roubar, não cometer adultério, não mentir; normas educacionais, como honrar o justo e o inocente, respeitar os sábios, entre outros.
A relação entre os líderes europeus e o imperador Gengis Khan era boa, pois havia de ambos os lados interesses políticos e comerciais. Tanto a Europa quanto os mongois estavam em guerra contra os muçulmanos, com o objetivo de expulsá-los da Europa e da Ásia. A Rota da Seda, reaberta por Gengis Khan, atendia aos interesses econômicos de mongois e europeus que por lá trafegavam em busca das especiarias do Oriente.

 

O exército mongol


Os guerreiros mongois eram preparados desde criança com as melhores comidas e aprendiam a manejar armas e a cavalgar. As principais armas eram o arco e a flecha, que os cavaleiros lançavam de cima dos seus cavalos, numa demonstração de grande habilidade. Mas também eram utilizadas lanças, aljavas, escudo, laço, adaga, alforje, espadas, azagais, entre outras. Os mongois tinham um exército de infantaria, composto pelos servos, e outro de cavalaria, formado pelos guerreiros. Praticavam o revezamento dos cavalos, que eram muitos, para estes não ficarem cansados. A destreza dos “arqueiros montados” fazia do exército mongol um dos mais temidos.
O exército organizado por Gengis Khan era baseado em unidades mínimas de dez homens cada, comandada por um deles. Dez dessas unidades-base, num total de cem homens, eram por sua vez comandadas por um líder, que estaria subordinado a um comandante de um grupo de mil homens. Cada comandante se subordinava a um general, que controlava dez mil homens. Os generais estavam subordinados ao próprio Gengis Khan.

A primeira grande conquista: a China


Os mongois iniciaram a conquista do território chinês em 1207, com a invasão do reino de Hsi Hsia, ao norte da China, que era vassalo da China Imperial. Apesar da forte resistência encontrada no caminho, durante a travessia da Grande Muralha, conseguiram chegar à Pequim, mas encontraram muitas dificuldades, pois, além das muralhas que cercavam a cidade, os soldados chineses usavam catapultas.
O primeiro ataque de Gengis Khan à Pequim, em 1211, não obteve sucesso, uma vez que o exército mongol, treinado nas estepes, não estava acostumado a guerrear em praças fortificadas. Somente na segunda tentativa, em 1215, Gengis Khan rendeu Pequim e conquistou várias partes do Império Chinês. Milhões de chineses foram mortos. Os que sobreviveram foram escravizados, entre eles, o sábio Ye Lui Chutsai. Os mongois pretendiam arrasar tudo e transformar a região em pastagens para o gado. Ye Lui Chutsai, porém,  convenceu Gengis Khan a manter as terras cultivadas com plantações de arroz, em vez de transformá-las em pastagens.

A conquista da Pérsia


Enquanto seus generais consolidavam o domínio mongol na China, Gengis Khan retornou à Mongólia. Em 1218, invadiu a Pérsia, após ter recebido a cabeça de um dos seus generais, enviado para lá em missão diplomática. À frente de um exército de mais de 200 mil homens e com aproximadamente dez mil máquinas, adquiridas dos chineses, Gengis Khan capturou as cidades persas, matando mais de um milhão de pessoas. Depois disto, o imperador mongol conquistou ainda os territórios da Corásmia (atuais Uzbequistão, Quirguistão, Turcomenistão, Tajiquistão e Afeganistão), numa guerra que durou de 1219 a 1222.

A morte de Gengis Khan e o apogeu do Império Mongol


            Em 1227, o exército mongol encontrava-se guerreando na Rússia e na Ucrânia, mas Gengis Khan retornou à Mongólia para conter uma revolta em Hsi Hsia, que havia se recusado a enfrentar a Pérsia. Após vencer a batalha, Gengis Khan morreu vitimado por uma febre. Ogedei, filho e sucessor de Gengis Khan, expandiu o território mongol ao máximo. Posteriormente, o Império Mongol foi dividido em quatro partes. Os sucessores de Gengis Khan foram: Ogedei (1229-1241), Guyuk (1246-1248), Mongke (1251-1259) e Kublai Khan (1260-1294).
Kublai Khan, neto de Gengis Khan, concluiu a conquista de toda a China em 1279, numa luta que durava desde 1236, e fundou a Dinastia Yuan. Após tentativas frustradas de invasão ao Japão, em 1274 e 1281, com grandes perdas para os mongois, foi estabelecida a Pax mongolica, que garantia aos viajantes uma travessia segura pela Rota da Seda. Foi por esta época que o explorador veneziano Marco Polo empreendeu suas viagens, cheias de aventuras e mistérios, narradas numa obra que se tornou referência de conhecimentos sobre o Oriente. Este período foi de grande prosperidade para o Império Mongol.


Declínio e queda do Império Mongol

Com a morte de Kublai Khan, em 1294, o Império Mongol começa a declinar. Os quatro principados tornaram-se independentes entre si e, com exceção de apenas um, tiveram curta existência.
A Dinastia Yuan controlava a China e a Mongólia, no entanto, em meados do século XIV, os campônios chineses fizeram uma revolta que se transformou em guerra de libertação contra os mongois. Nessa guerra, os chineses utilizaram uma de suas invenções com muita habilidade: a pólvora. Graças ao uso de canhões com pólvora, que suplantaram com facilidade as espadas, arcos e flechas dos mongois, o exército chinês, de um milhão de homens, derrotou o último imperador mongol, Yuan, em 1368. Nessa data, o monge budista Chu Yuanchang (HongWu) fundou a dinastia Ming, que manteve a Mongólia sob seu domínio.
O esfacelamento do Império Mongol teve consequencias diretas para o comércio realizado pela Rota da Seda, que acabou sendo deixada de lado por volta de 1400. Os europeus, interessados em descobrir novas rotas de comércio com o Oriente, começavam então a incrementar as Grandes Navegações, dando início a uma nova etapa na História, que culminou com a descoberta do Novo Mundo.


Fontes:

Enciclopédia Larousse Cultural, verbete “mongóis”, p. 4051.

http://pt.wikipedia.org


SCHIOCCHET, Leonardo. Extremo Oriente Médio, admirável Mundo Novo: a construção do Oriente Médio e a Primavera Árabe. Revista Tempo do Mundo, vol. 3, n. 2, ago./2011, p. 37-82.

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