sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Revolução Francesa (1789 – 1799)

Conceito:

A Revolução Francesa foi um amplo movimento social e político que aconteceu na França no final do século XVIII, acabando de vez com o Antigo Regime e marcando a passagem da Idade Moderna para a Idade Contemporânea, com a abolição da monarquia e proclamação da República. Influenciada pelos ideiais iluministas e pela Independência Americana de 1776, tinha como lema “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” (Liberté, Egalité, Fraternité), frase do filósofo iluminista Jean-Jacques Rousseau.
Origens:
Na segunda metade do século XVIII, a base da economia francesa já tinha há muito deixado de ser feudal, isto é, baseada apenas na riqueza originada da propriedade e exploração da terra. Havia indústrias variadas em plena expansão, bancos, comércio. A burguesia era a classe mais desenvolvida economicamente, enquanto a nobreza proprietária de terras estava em franca decadência econômica. No entanto, a sociedade francesa ainda mantinha a antiga divisão feudal em Estados, sendo o Primeiro Estado constituído pelo clero e o Segundo Estado, pela nobreza. A burguesia, embora rica, fazia parte do Terceiro Estado, juntamente com camponeses, trabalhadores assalariados e povo de modo geral. No topo desta pirâmide, encontrava-se o rei absolutista, concentrando em suas mãos todos os poderes. Essa desigualdade política gerava grande descontentamento por parte da burguesia, que era obrigada ainda a pagar altos impostos. O regime de servidão continuava existindo, obrigando os camponeses a pagarem corveia, talha, banalidade, entre outros impostos feudais.
Embora mais de 90% da população fizesse parte do Terceiro Estado, este era enfraquecido politicamente, pois o regime de votos era extremamente desigual: os votos dos deputados do Primeiro Estado tinham peso 3, os votos dos deputados da nobreza tinham peso 2 e os votos dos deputados do Terceiro Estado tinham peso 1. Essa situação, agravada pela crise na lavoura, que elevou o custo de vida e o desemprego, fez com que a burguesia e o povo se unissem para reivindicar mudanças fiscais e políticas. O rei absolutista Luís XVI convocou os Estados Gerais no dia 05/05/1789, quando procurou atender parcialmente às reivindicações do Terceiro Estado, duplicando o número dos seus deputados. No entanto, a questão dos pesos dos votos não foi resolvida. Descontente, o Terceiro Estado, liderado pela burguesia, proclamou-se Assembleia Nacional no dia 17/06/1789 e recusou-se a obedecer ao rei no dia 23/06/1789. Luís XVI ordenou então que os privilegiados se reunissem, em Assembleia, com o Terceiro Estado.  

Fases da Revolução Francesa

A Revolução Francesa teve quatro períodos distintos, cada qual marcado por mudanças políticas e episódios sangrentos.

1) A Assembleia Nacional Constituinte (09/07/1791)

A Assembleia Nacional Constituinte começou seus trabalhos no dia 09/07/1791. No entanto, a multidão parisiense, descontente e faminta, pegou em armas e, no dia 14/07/1789, houve a Tomada da Bastilha, que se tornou símbolo da Revolução Francesa contra o absolutismo. O Grande Medo atingiu o campo e os conflitos se intensificaram, com aldeias inteiras pegando em armas para se defenderem de supostos camponeses revoltosos que estariam ameaçando de morte aqueles que não os seguisse. Os ânimos só se acalmaram na noite de 04/08/1789, quando a Assembleia aboliu vários privilégios e direitos feudais.

No dia 26/08/1789, foi proclamada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. A Assembleia elaborou uma nova Constituição, que previa uma monarquia e uma Assembleia única, eleita por sufrágio censitário (voto por cabeça e não por ordens), realizou reformas completas na administração, na Justiça e nos impostos, e nacionalizou os bens do clero. No entanto, no dia 14/06/1791, a Assembleia aprovou a Lei de Le Chapelier, proibindo a existência de sindicatos de trabalhadores e a realização de greves.  

Na noite de 20 para 21/06/1791, a família real fugiu secretamente do Palácio das Tulherias, com a intenção de deixar a França, mas no dia 20/07/1791, a tentativa de fuga malogrou, na fronteira da Bélgica, e o rei e sua família foram reconduzidos a Paris, escoltados por uma multidão que os acusava de traição.
2) A Assembleia Legislativa (1º/10/1791 a 20/09/1792)

Este período foi marcado pelas divergências entre os Feuillants (burguesia financeira) e os girondinos, adeptos de Brissot. As tensões aumentaram, com o clero resistindo às mudanças e os emigrados instigando os países europeus contrários à revolução a invadirem a França. No dia 20/04/1792, a Assembleia Legislativa aprova a declaração de guerra à Áustria, formando-se por toda a França batalhões de voluntários.
O povo continuava faminto, pois sua situação pouco havia mudado: os camponeses continuavam sem terra e os trabalhadores das cidades estavam desempregados. Os jacobinos Danton, Robespierre e Marat distribuem armas ao povo e organizam a Comuna Insurrecional de Paris. No dia 20/06/1792, os amotinados invadiram o Palácio das Tulherias. Finalmente, dia 10/08/1792, a monarquia foi derrubada e a família real foi presa, acusada de colaborar com os invasores.
Entre os dias 2 e 07/09/1792, ocorrem massacres e execuções em massa, conhecidos como os “Massacres de Setembro”, um dos episódios mais sangrentos da Revolução Francesa, que tiveram lugar em Paris, Orleans, Meaux e Reims. Esses massacres começaram com a degola de 23 padres refratários às mudanças, que estavam presos na Prisão da Abadia, e depois se espalharam por outras prisões, onde estavam centenas de padres presos.
Marat publicou uma circular, dia 03/09/1792, autorizando os tribunais populares e os julgamentos sumários, e estendendo-os por toda a França. Em 20/09/1792, a invasão estrangeira foi contida pelas tropas revolucionárias na Batalha de Valmy.

3) A Convenção Nacional (21/09/1792 a 26/10/1795) 

O Ano I da República começou em 22/09/1792, quando tiveram início as lutas entre os girondinos (grande burguesia, nobreza liberal e baixo clero), chefiados por Brissot e Vergniaud, e os montanheses ou jacobinos (pequena burguesia e massas populares de Paris, chamadas de sans-culottes), adeptos de Robespierre, Danton e Marat. Os girondinos eram provinciais, defendiam o legalismo e queriam consolidar as conquistas da burguesia e acabar com a revolução, enquanto os montanheses queriam mudanças radicais, baseadas em medidas de exceção. Os girondinos sentavam-se à direita da mesa da Presidência, enquanto os jacobinos sentavam-se à esquerda. Ao centro, ficavam os deputados sem opiniões muito firmes, chamados de “planície” ou “pântano”. Essa situação originou as designações políticas de “direita” (conservadores) e “esquerda” (revolucionários).

Após uma votação, em que os girondinos estiveram divididos e os jacobinos votaram pela pena de morte, o rei foi executado no dia 21/01/1793. Em junho de 1793, um levante popular exigiu a prisão dos girondinos. Os jacobinos (ou montanheses) assumem o poder. Áustria, Prússia, Holanda, Espanha e Inglaterra levantam-se contra a França revolucionária, invadindo-a. O governo jacobino criou o Comitê de Salvação Pública (administração e defesa externa), comandado por Danton, o Comitê de Segurança Geral (responsável pela segurança interna) e o Tribunal Revolucionário (que julgava sumariamente os opositores da revolução). Foi decretada economia de guerra, com racionamento de mercadorias e combate aos especuladores que aumentassem os preços.

Em 13 julho de 1793, Marat foi assassinado por uma jovem girondina (Charlotte de Corday), exaltando os ânimos. Danton, defensor do fim da revolução, foi expulso do partido e Robespierre assumiu plenos poderes, tornando-se cada vez mais autoritário. O Terror instalou-se, quando cerca de 40 mil pessoas, entre elas a ex-rainha Maria Antonieta e o químico Lavoisier, além de aristocratas, clérigos, girondinos, entre outros, foram julgados sumariamente e guilhotinados. Condenado por conspiração, Danton também foi executado. Em junho de 1794, o exército francês derrotou os invasores.


No dia 27/07/1794 (9 de Termidor, pelo novo calendário da Revolução), os girondinos que haviam sobrevivido ao Terror articularam um golpe, e derrubaram Robespierre, que foi guilhotinado sumariamente. Instalou-se então o período Termidoriano, que durou até outubro de 1795 e marcou a volta da grande burguesia girondina ao poder. O Terror teve fim, houve pacificação parcial (tratados com a Prússia, Espanha e Holanda), as prisões arbitrárias e julgamentos sumários foram extintos e os jacobinos foram perseguidos. Foi elaborada uma nova Constituição – a Constituição do Ano III, suprimindo o sufrágio universal e resgatando o voto censitário (voto masculino e de alfabetizados). Com esta medida, grande parte da população ficou impedida de votar e o movimento popular foi enfraquecido.
4) O Diretório (26/10/1795 a 09/11/1799)
Esta fase marcou o retorno da alta burguesia ao poder. A fim de evitar a instalação de uma ditadura no poder, a Constituição do Ano III fragmentou os poderes. O Executivo foi entregue a cinco diretores, e o Legislativo, ao Conselho dos Anciãos e ao Conselho dos Quinhentos.

O exército ganhava cada vez mais prestígio, com a vitória contra a Itália (1796-1797), e o general Bonaparte torna-se um herói nacional. Ocorrem várias tentativas de golpes monarquistas e jacobinos para tomar o poder, das quais se sobressai a Conspiração dos Iguais, liderada por François Nöel Babeuf, conhecido como Graco Babeuf, que pregava a abolição da propriedade privada. A insurreição foi denunciada e Babeuf e seus seguidores foram guilhotinados em 27/05/1797. Suas ideias, porém, iriam inspirar as lutas operárias no século XIX.

Em 1799, Prússia, Holanda, Espanha e Itália formaram a Segunda Coalizão contra a França. A opinião pública, porém, desejava um regime forte, que pusesse fim às desordens. Retornando de uma campanha no Egito, Bonaparte, com o apoio de dois diretores e da grande burguesia, derrubou o Diretório, no dia 09/11/1799, conhecido como o Golpe do 18 de Brumáio. O consulado foi instaurado, dando-se início ao período napoleônico, que consolidou as conquistas burguesas da Revolução.
Fontes:
Larousse Cultural


quinta-feira, 14 de julho de 2011

O Renascimento

Profª Estela

O Renascimento é o período situado entre o fim da Idade Média e início da Idade Moderna, na Europa. Para alguns historiadores, o surgimento das obras dos italianos Dante e Petrarca, na segunda década do século XIV, marca o início desse período, que durou até o século XVIII, quando começou o Iluminismo. Outros historiadores, porém, consideram que a Idade Média teve fim em meados do século XV, com a tomada de Constantinopla pelos turcos em 1453 – fato que obrigou as potências europeias a buscarem novas rotas de comércio com as Índias –, dando início assim ao Renascimento. De qualquer modo, há um consenso de que o Renascimento passou por algumas “etapas” correspondentes aos séculos em que vigorou, em maior ou menor escala: Trecento (século XIV), Quattocento (século XV), Alta Renascença (fins do século XV e início do XVI) e Cinquecento (final do século XVI).

Origens

O Renascimento foi o resultado das lentas transformações que imprimiram uma nova feição à sociedade medieval, e que tiveram início por volta dos séculos XI e XII, com o florescimento do comércio na Europa, realizado nas grandes feiras que tinham lugar nas cidades italianas e alemãs. As velhas estruturas feudais, baseadas em relações de servidão em torno da terra, viram surgir novos componentes sociais os artesãos e os mercadores –, cujas atividades caracterizaram o período conhecido como Baixa Idade Média e que iriam compor uma nova classe em ascensão: a burguesia.
A Cruzada contra os muçulmanos, realizada pelo Papa Urbano II em 1095, também ajudou a intensificar o comércio, pois os mercadores acompanhavam as dezenas de milhares de europeus que iam guerrear contra os muçulmanos na Terra Santa, a fim de fornecer-lhes tudo o que necessitassem, desde armamentos e roupas até gêneros alimentícios. Deste modo, o tráfego marítimo também se intensificou, fortalecendo o grupo dos navegantes.
As cidades italianas de Gênova, Veneza e Pisa, com sua posição estratégica, favoreciam o atracamento de navios e funcionavam como porta para o lado oriental do Mar Mediterrâneo, facilitando assim o comércio da Europa com o Oriente nos séculos XI e XII, enquanto, em Flandres, a cidade de Bugres era o ponto de comércio nos mares do Norte e Báltico. Do século XII ao XV, as feiras eram realizadas nas cidades da planície de Champagne, que funcionavam como “ponto de encontro” entre o comércio do norte e o do sul.
As feiras duravam todo o ano, com os mercadores deslocando-se de uma para outra, e foram muito importantes ainda porque aí se efetuavam transações financeiras, em que eram trocadas as muitas variedades de moedas, negociavam-se empréstimos, faziam-se pagamentos, etc. Ou seja, a economia do feudo autossuficiente da época medieval, baseada no escambo, a esta altura já quase não existia mais, cedendo lugar à economia baseada em relações mercantis.
Paralelamente a esse intenso intercâmbio comercial, ocorria um intercâmbio cultural, decorrente do cosmopolitismo das cidades italianas e alemãs, que recebiam gente de todos os cantos da Europa e do Oriente. Além de pólos comerciais, as cidades italianas também eram as guardiãs da cultura clássica da Antiguidade. O ensino, até então de propriedade exclusiva da Igreja, passou a ser mais difundido, enquanto o latim, obrigatório nas escolas, foi sendo progressivamente substituído pelas línguas locais. Exemplo disso são os Cancioneiros, que eram a “febre” do período. Originados na cultura popular oral, os Cancioneiros dos trovadores começaram, a partir do século XII, a ser registrados por escrito em galaico-português na Península Ibérica. Na França, por volta de 1160 a 1180, Chrétien de Troyes reúne pela primeira vez, escritos em francês, os textos da novela de cavalaria A Demanda do Santo Graal, antes dispersos. Mas foi somente com as obras dos italianos Dante (A divina comédia, 1307-1321) e Petrarca (O cancioneiro, 1327), trazendo elementos da cultura greco-romana e escritas em italiano, que se pode dizer que o “Renascimento” cultural da Europa teve início. O Dolce Stil Nuovo, movimento integrado por Dante e outros poetas, inaugura uma nova forma poética, substituindo de vez a poesia trovadoresca e espalhando-se por toda a Europa.
No entanto, a par das transformações ocorridas na economia e na cultura, a Europa passava por grandes crises sociais, visto que, embora tenha surgido uma classe que obteve ascensão econômica – a burguesia –, a estrutura política e social permanecia a mesma da época medieval, baseada na existência de três estamentos enrijecidos: o clero, a nobreza e o “Terceiro Estado”, a que eram relegados burgueses e camponeses. A Igreja, grande proprietária de terras, resistia em conceder liberdade aos servos, que haviam passado não só a arrendar terras com pagamento em dinheiro, mas também podiam comprar a sua própria liberdade pessoal. Houve vários levantes no campo. Por outro lado, formou-se uma massa de camponeses assalariados, que não possuía dinheiro para arrendar terras nem comprar sua liberdade, enquanto, nas cidades, os pequenos artesãos enfrentavam o monopólio das guildas, as corporações de grandes artesãos e comerciantes que excluíam aqueles que não se adaptassem às suas rígidas regras.
A Peste Negra, que dizimou cerca de um terço da população europeia em meados do século XIV, também contribuiu para o agravamento da crise na Europa, causando a elevação dos salários dos trabalhadores e levando à tentativa dos senhores de proibir os aumentos salariais, mediante a imposição de leis para quem pagasse mais pelo trabalho – o que ocasionou mais revoltas.

O Humanismo

A maior difusão do conhecimento, muitas vezes financiada pela burguesia, fez surgir, no início do século XIV, uma categoria de intelectuais italianos que, influenciados pelos novos tempos e pela retomada da herança cultural da Antiguidade Clássica, deram origem ao movimento cultural do Humanismo. Preocupados com as questões do seu tempo, os Humanistas, localizados principalmente em Florença, abandonaram o conceito medieval de Teocentrismo, defendido pela Igreja, que tinha “Deus como centro do pensamento” e segundo o qual as coisas eram do jeito que eram por “vontade divina”, e o substituíram pelo Antropocentrismo, conceito que tinha o ser humano como centro do pensamento. Surgiram novos valores, como o racionalismo e o individualismo, que expressavam a crença no poder da ciência e da razão humanas.
Fundadas no conceito de imitatio, a escultura e arquitetura renascentistas também retomam os princípios da arte greco-romana, enquanto uma revalorização hedônica do corpo humano reforçava o conceito de Antropocentrismo. Novas formas de manifestação literária são utilizadas: em oposição à redondilha (versos de cinco e sete sílabas, que se tornaram a metrificação típica da Idade Média), o verso decassílabo passa a ser adotado por vários poetas italianos. Petrarca aperfeiçoa o soneto – a nova forma criada por Giácomo da Lentini no século XIII e utilizada por Dante e outros poetas –, separando os 14 versos que o compõem em quatro estrofes rimadas, sendo duas estrofes de quatro versos e duas de três.

                               Mapa da Itália com destaque para Florença
A latinização da cultura

De Florença, principal centro do pensamento humanista, o Humanismo se irradia para toda a Itália, e depois se espalha pela Europa durante o século XV. O “doce estilo novo” de Dante, baseado na introspecção, que Petrarca havia consagrado, é adotado por poetas de vários países europeus. A utilização da imprensa, a partir de 1450 na Alemanha, também foi um fator decisivo para a difusão do movimento renascentista e do pensamento humanista. Devido à redescoberta dos autores antigos e à necessidade de traduzir os gregos para uma língua aceita por diferentes países, ocorre uma revalorização do latim, que se torna a “língua da cultura” na Europa, espécie de “língua franca” do período. A própria Bíblia, o primeiro livro impresso por Gutenberg, que se tornou o marco da produção em larga escala de livros, foi traduzida do grego e publicada em latim vulgar – daí sendo denominada “Vulgata”. As universidades fundam bibliotecas, elevando assim o número delas, que desde o século anterior vinha tendo aumento considerável, sobretudo as particulares, pertencentes a burgueses abastados, que viam nos livros, confeccionados em pergaminho, um alto valor de mercado.

A redescoberta do ceticismo

O estudo dos gregos, empreendido inicialmente pelos humanistas italianos, fez ressurgir na Europa dos séculos XV e XVI o ceticismo, fundado como corrente filosófica por Pirro, na Grécia Antiga, no século III a. C., e que tinha, assim como o Humanismo, o ser humano como objeto de suas reflexões. Em 1480, inspirado no ceticismo, Pico della Mirandola publica o Discurso sobre a dignidade do homem, que introduz suas polêmicas 900 teses acerca do conhecimento humano, consideradas heréticas pela Igreja. Mais tarde, na década de 1560 na França, Henri Estienne e Gentien Hervet traduzem para o latim e publicam as obras de Sexto Empírico, que compilou, no século III da era cristã, o pensamento de Pirro e de outros céticos antigos. Sem renegar a fé cristã, os céticos renascentistas irão se valer da dialética inerente a essa forma de pensamento como método de combate às pretensões dogmatistas do pensamento escolástico, colocando em xeque deste modo a suprema autoridade religiosa da Igreja Católica, que também foi contestada pela Reforma Protestante de Lutero, em 1516-17.
Como reação tanto ao protestantismo luterano quanto ao ceticismo, o Papa Júlio II reúne em Roma, a partir de 1480, as grandes obras de artistas de origens diversas, como Leonardo da Vinci, Michelangelo e Rafael, caracterizando o período conhecido como Alta Renascença, que teve fim em 1527 com o Saque de Roma – episódio extremamente violento, promovido pelas tropas amotinadas de Carlos de Habsburgo, rei da Espanha, e apoiado pelos fanáticos luteranos.

O Maneirismo

A derradeira fase do Renascimento é conhecida como Maneirismo, quando, já espalhado por toda a Europa, os autores locais produzem suas obras em língua vernácula, dando origem assim a estilos marcadamente diferenciados. A essa altura, a Itália já havia deixado de ser o centro comercial da Europa, cedendo lugar às novas rotas de comércio abertas por Portugal e Espanha, com as grandes navegações. O saque de Roma, que obrigou o êxodo dos artistas que lá viviam, também contribuiu para aprofundar o clima de pessimismo e insegurança, refletido pelos maneiristas italianos em suas obras.
Em Portugal, o maior representante desta fase do Renascimento é Luís Vaz de Camões, que escreveu o poema épico Os lusíadas (1572). Exaltando os feitos dos navegantes portugueses e as tradições lusitanas à luz da cultura greco-romana, a obra de Camões torna-se um verdadeiro monumento da língua portuguesa. Na França, Montaigne publica, em 1580, seus Essays (Ensaios) obra considerada um marco da nova forma de se expressar –, entre os quais se acha o ensaio “A apologia de Raymond Sebond”, tratando do ceticismo filosófico. Na Inglaterra, surge William Shakespeare, o “bardo inglês”, autor de várias peças teatrais, escritas entre 1590 e 1613, muitas das quais inspiradas na cultura greco-romana. Finalmente, a Espanha é representada por Miguel de Cervantes, que escreveu a obra-prima Dom Quixote, publicada em 1605.

Contradições do Renascimento

O Renascimento foi um movimento bastante complexo, e tentar reduzi-lo a poucos eventos, características ou autores, obras e artistas, é sempre temerário. Foi principalmente um movimento contraditório em suas bases, pois apesar de valorizar a razão e a ciência como bens essenciais para o ser humano, a servidão na Europa ainda não era alvo de questionamentos consistentes. E, embora o Antropocentrismo tenha de fato colocado como “centro do pensamento” o ser humano e suas questões, a visão religiosa ainda persistia, quer sendo questionada, como fez Lutero em 1517, ou reafirmada pelo movimento católico da Contrarreforma, iniciado com o Concílio de Trento (1545 a 1563).
Neste sentido, a par da utilização da perspectiva e da perfeição das linhas na arte renascentista – algo celebrado por diversos estudiosos como uma reafirmação do conceito antropocêntrico –, os temas religiosos, sob o protetorado papal na Alta Renascença, são fartamente trabalhados pelos grandes mestres: Leonardo Da Vinci pintou “A Última Ceia” (1495-1498), enquanto Michelangelo pintou de 1508 a 1512 o teto da Capela Sistina, onde estão as obras “A criação de Adão” e “O juízo final”, e também fez esculturas abordando temas bíblicos, como “A Pietá” (1496) e “Davi” (1504).
Sem dúvida, as figuras religiosas renascentistas foram retratadas de forma “humanizada”, no entanto, desde Dante e sua Divina Comédia, passando pelas magníficas catedrais góticas europeias – cujas construções tiveram início na Baixa Idade Média, entre os séculos XII e XIII, e atravessaram todo o Renascimento , e pelos textos céticos que dão o “salto da fé”, como se vê em Montaigne e outros “céticos fideístas”, o que se percebe é uma visão ainda fortemente impregnada de religiosidade, que é sobretudo a visão do homem medieval em transição, sacudido pelas transformações que davam nova feição à Europa, pela expansão do mundo conhecido, provocada pelas Grandes Navegações, e pelos conflitos políticos que agitavam a Itália dos Médici.
A Contrarreforma Católica iria ainda contribuir decisivamente para uma mudança nos ideais estéticos renascentistas, que acabaram sendo substituídos, a partir do século XVII, pelo fervor religioso do Barroco.

Fontes:
HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. 20ª edição. Trad. Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar Editores, sem data. [1936]

VERDAN, André. O ceticismo filosófico. Trad. Jaimir Conte. Florianópolis: Editora da UFSC, 1998.

http://pt.wikipedia.org


Larousse Cultural, verbete Renascença, p. 4985 a 4988.


quinta-feira, 9 de junho de 2011

O Império Mongol

Profª Estela

Originalmente, a Mongólia, território encravado nas estepes da Ásia Central, entre a China e a Rússia, era dividida internamente em vários clãs, que lutavam entre si pelo poder. Até o século XII, esses povos eram chamados de “proto-mongois”, tendo havido entre eles alguns reinos bastante poderosos: o dos xiambei (séculos II e III), o dos ruan-ruan (séculos V-VI) e o dos quitans (séculos X-XII). No final do século XII, havia cinco principais clãs: os mongois, os merquitas, os queraítas, os tártaros e os naimans. Após várias lutas, em 1206, Temudjin, um mongol, saiu vitorioso e foi proclamado Khan, aos 45 anos de idade, numa assembleia geral o grande Quriltay – que reuniu os chefes de todos os clãs. Temudjin unificou o território da Mongólia e fundou o Império Mongol. A partir daí, passou a ser chamado de Gengis Khan, que significa “Senhor muito poderoso” ou ainda “Senhor dos Senhores”. Deu-se início assim à saga do Império Mongol pela conquista de territórios, até 1368, data que marca o fim deste Império.
A máxima extensão territorial alcançada pelo Império Mongol estendia-se de Java e Coreia, no leste, à Polônia no oeste, do Ártico à Turquia ao norte e Pérsia ao sul, tendo conquistado, em sua relativa pouca existência, a maior extensão territorial de um império.

                  A linha vermelha no mapa delimita o território do Império Mongol.

Além da organização do grande exército imperial, que permitiu as conquistas de territórios, Gengis Khan, o fundador do Império Mongol, fez muitas realizações, como: o alfabeto mongol, um código de leis denominado Jasagh ou Yasa e a restauração de grandes rotas de comércio asiáticas da Antiguidade, conhecidas como a Rota da Seda. Gengis Khan faleceu em agosto de 1227, sendo sucedido por seus filhos, que dividiram o império entre si.


                                                          Rota da Seda

Estrutura social e econômica

O povo mongol era nômade e vivia da criação de ovelhas. A sociedade era formada por vários clãs, que constituíam as famílias. O homem era o líder do clã e tinha várias mulheres, filhos, servos e escravos. Cada uma de suas mulheres morava em uma tenda chamada Gers, com seus respectivos filhos.
Não havia uma religião oficial, mas os mongois seguiam o Xamanismo e assimilavam ainda a religião dos povos conquistados. Como observa Leonardo Schiocchet (2011, p. 45), “é importante lembrar que o Império Mongol tornou-se muçulmano durante sua expansão e após o contato com o Oriente Médio”. Havia um código de leis morais e de costumes, ditado pelo próprio Gengis Khan: o Yasa. Entre as normas morais, estavam: amar ao próximo, não roubar, não cometer adultério, não mentir; normas educacionais, como honrar o justo e o inocente, respeitar os sábios, entre outros.
A relação entre os líderes europeus e o imperador Gengis Khan era boa, pois havia de ambos os lados interesses políticos e comerciais. Tanto a Europa quanto os mongois estavam em guerra contra os muçulmanos, com o objetivo de expulsá-los da Europa e da Ásia. A Rota da Seda, reaberta por Gengis Khan, atendia aos interesses econômicos de mongois e europeus que por lá trafegavam em busca das especiarias do Oriente.

 

O exército mongol


Os guerreiros mongois eram preparados desde criança com as melhores comidas e aprendiam a manejar armas e a cavalgar. As principais armas eram o arco e a flecha, que os cavaleiros lançavam de cima dos seus cavalos, numa demonstração de grande habilidade. Mas também eram utilizadas lanças, aljavas, escudo, laço, adaga, alforje, espadas, azagais, entre outras. Os mongois tinham um exército de infantaria, composto pelos servos, e outro de cavalaria, formado pelos guerreiros. Praticavam o revezamento dos cavalos, que eram muitos, para estes não ficarem cansados. A destreza dos “arqueiros montados” fazia do exército mongol um dos mais temidos.
O exército organizado por Gengis Khan era baseado em unidades mínimas de dez homens cada, comandada por um deles. Dez dessas unidades-base, num total de cem homens, eram por sua vez comandadas por um líder, que estaria subordinado a um comandante de um grupo de mil homens. Cada comandante se subordinava a um general, que controlava dez mil homens. Os generais estavam subordinados ao próprio Gengis Khan.

A primeira grande conquista: a China


Os mongois iniciaram a conquista do território chinês em 1207, com a invasão do reino de Hsi Hsia, ao norte da China, que era vassalo da China Imperial. Apesar da forte resistência encontrada no caminho, durante a travessia da Grande Muralha, conseguiram chegar à Pequim, mas encontraram muitas dificuldades, pois, além das muralhas que cercavam a cidade, os soldados chineses usavam catapultas.
O primeiro ataque de Gengis Khan à Pequim, em 1211, não obteve sucesso, uma vez que o exército mongol, treinado nas estepes, não estava acostumado a guerrear em praças fortificadas. Somente na segunda tentativa, em 1215, Gengis Khan rendeu Pequim e conquistou várias partes do Império Chinês. Milhões de chineses foram mortos. Os que sobreviveram foram escravizados, entre eles, o sábio Ye Lui Chutsai. Os mongois pretendiam arrasar tudo e transformar a região em pastagens para o gado. Ye Lui Chutsai, porém,  convenceu Gengis Khan a manter as terras cultivadas com plantações de arroz, em vez de transformá-las em pastagens.

A conquista da Pérsia


Enquanto seus generais consolidavam o domínio mongol na China, Gengis Khan retornou à Mongólia. Em 1218, invadiu a Pérsia, após ter recebido a cabeça de um dos seus generais, enviado para lá em missão diplomática. À frente de um exército de mais de 200 mil homens e com aproximadamente dez mil máquinas, adquiridas dos chineses, Gengis Khan capturou as cidades persas, matando mais de um milhão de pessoas. Depois disto, o imperador mongol conquistou ainda os territórios da Corásmia (atuais Uzbequistão, Quirguistão, Turcomenistão, Tajiquistão e Afeganistão), numa guerra que durou de 1219 a 1222.

A morte de Gengis Khan e o apogeu do Império Mongol


            Em 1227, o exército mongol encontrava-se guerreando na Rússia e na Ucrânia, mas Gengis Khan retornou à Mongólia para conter uma revolta em Hsi Hsia, que havia se recusado a enfrentar a Pérsia. Após vencer a batalha, Gengis Khan morreu vitimado por uma febre. Ogedei, filho e sucessor de Gengis Khan, expandiu o território mongol ao máximo. Posteriormente, o Império Mongol foi dividido em quatro partes. Os sucessores de Gengis Khan foram: Ogedei (1229-1241), Guyuk (1246-1248), Mongke (1251-1259) e Kublai Khan (1260-1294).
Kublai Khan, neto de Gengis Khan, concluiu a conquista de toda a China em 1279, numa luta que durava desde 1236, e fundou a Dinastia Yuan. Após tentativas frustradas de invasão ao Japão, em 1274 e 1281, com grandes perdas para os mongois, foi estabelecida a Pax mongolica, que garantia aos viajantes uma travessia segura pela Rota da Seda. Foi por esta época que o explorador veneziano Marco Polo empreendeu suas viagens, cheias de aventuras e mistérios, narradas numa obra que se tornou referência de conhecimentos sobre o Oriente. Este período foi de grande prosperidade para o Império Mongol.


Declínio e queda do Império Mongol

Com a morte de Kublai Khan, em 1294, o Império Mongol começa a declinar. Os quatro principados tornaram-se independentes entre si e, com exceção de apenas um, tiveram curta existência.
A Dinastia Yuan controlava a China e a Mongólia, no entanto, em meados do século XIV, os campônios chineses fizeram uma revolta que se transformou em guerra de libertação contra os mongois. Nessa guerra, os chineses utilizaram uma de suas invenções com muita habilidade: a pólvora. Graças ao uso de canhões com pólvora, que suplantaram com facilidade as espadas, arcos e flechas dos mongois, o exército chinês, de um milhão de homens, derrotou o último imperador mongol, Yuan, em 1368. Nessa data, o monge budista Chu Yuanchang (HongWu) fundou a dinastia Ming, que manteve a Mongólia sob seu domínio.
O esfacelamento do Império Mongol teve consequencias diretas para o comércio realizado pela Rota da Seda, que acabou sendo deixada de lado por volta de 1400. Os europeus, interessados em descobrir novas rotas de comércio com o Oriente, começavam então a incrementar as Grandes Navegações, dando início a uma nova etapa na História, que culminou com a descoberta do Novo Mundo.


Fontes:

Enciclopédia Larousse Cultural, verbete “mongóis”, p. 4051.

http://pt.wikipedia.org


SCHIOCCHET, Leonardo. Extremo Oriente Médio, admirável Mundo Novo: a construção do Oriente Médio e a Primavera Árabe. Revista Tempo do Mundo, vol. 3, n. 2, ago./2011, p. 37-82.

terça-feira, 31 de maio de 2011

O Império Persa

Profª Estela

Em 549 a. C., 40 anos antes da proclamação da República Romana, um novo império foi fundado pelos persas arquemênidas, um povo de cavaleiros, parcialmente nômade. Os persas se dividiam em tribos de agricultores e criadores. Seu império foi fundado por Ciro II, o Grande, quando os persas, ocupantes do sul do planalto iraniano, e os medos, do norte do planalto, se uniram com o objetivo de conquistar os territórios gregos da Ásia Menor (atual Turquia). Ciro foi um governante justo e generoso. Os povos dominados por ele não eram escravizados, podiam seguir suas próprias línguas e religiões e manter seus costumes, mas eram obrigados a pagar tributos ao Império Persa. O governo de Ciro durou até 529 a. C., quando Cambises, seu filho, o sucedeu no trono.
        Cambises teve um reinado curto, de 529 a 523 a. C., cuja maior façanha foi a tomada do Egito, na Batalha de Pelusa, em 525 a. C. Morreu ao regressar à Pérsia, sendo sucedido por Dario I, que governou de 522 a 486 a. C.
Com um vasto território, o Império Persa foi um dos mais poderosos do mundo antigo, tendo alcançado o auge durante o reinado de Dario I, cujas principais realizações foram: a pacificação interna do império, com a divisão do território em cerca de 20 províncias, denominadas satrapias e governadas por sátrapas; a construção de grandes estradas reais; a melhoria do sistema de correios, que eram inspecionados por funcionários do rei, chamados de “olhos e ouvidos do soberano”; a criação da primeira moeda, o darico (ou dárico).




                            Extensão territorial do Império Persa durante o reinado de Dario I.
                                                 (Clicar na imagem para ver em tamanho ampliado)


Os principais fatores de integração do Império Persa eram: o aramaico como língua oficial, empregado juntamente com as diversas línguas regionais; o exército, formado por soldados locais, recrutados entre persas e medos, além de 15 mil soldados de elite, que compunham a guarda real; a utilização das estradas para fins comerciais, administrativos e estratégicos entre as diversas regiões; a utilização do darico como moeda de troca em todo o império; a religião masdeísta, fundada pelo profeta Zoroastro, que viveu por volta do século VI a. C., tendo nascido na região do atual planalto iraniano, na Ásia Central. Monoteísta e baseado no dualismo entre o Bem e o Mal, o zoroastrismo, como também pode ser chamado, era fonte de força moral para os guerreiros persas, tendo, segundo os estudiosos, influenciado as três principais religiões mundiais: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo.
Ainda durante o governo de Dario I, houve a rebelião das colônias gregas na Ásia Menor. Lideradas pela cidade de Mileto, essas colônias se insurgiram contra a cobrança dos impostos. A rebelião foi sufocada em 492 a. C. pelo general Mardônio, genro de Dario I, que destruiu a cidade, matando os homens e escravizando as mulheres e as crianças. Mardônio seguiu com seu exército para a conquista da Grécia, mas foi derrotado em território europeu, nas batalhas de Maratona (490 a. C.) e Plateia (479 a. C.), sendo morto nesta última.
Diógenes de Laércio, que compilou, no século III, a vida e a obra de filósofos gregos ilustres, conta que o rei Dario desejou conhecer o filósofo Herácleitos, que gozava de fama de sábio. Para tanto, o rei escreveu uma carta ao filósofo, convidando-o a visitá-lo e esclarecer alguns pontos da sua doutrina, considerada excessivamente erudita e, por isso, incompreensível para os não iniciados. Consta que Herácleitos declinou do convite, com a seguinte carta:
         "Herácleitos de Éfesos ao rei Dario filho de Histaspes, saudações. Todos os homens sobre a terra permanecem longe da verdade e da justiça, e por causa de sua miserável loucura devotam-se sofregamente à satisfação de suas ambições e sede de popularidade. Eu, que esqueci de toda a maldade e evito a insolente saciedade de todas as aspirações, intimamente associada à inveja, e desdenho a ostentação, não posso ir à terra dos persas, contente com pouco e obediente à minha razão" (in LAÊRTIOS, 2008, p. 254).
       Dario foi sucedido no trono por seu filho Xerxes, que reinou de 485 a 465 a. C. Xerxes empreendeu a última grande campanha militar contra os gregos, mas foi derrotado na batalha naval de Salamina, em 480 a. C. As derrotas impostas pelos gregos, a insatisfação dos povos dominados, a crise nas colônias gregas da Ásia Menor, além de disputas internas pelo poder, enfraqueceram o Império Persa. Xerxes, filho de Dario, foi sucedido por mais sete reis, sendo o último deles o imperador Dario III. Em 330 a. C., um século e meio após a morte de Dario I, o rei macedônio Alexandre, o Grande, derrotou Dario III na batalha de Issus. Era a queda do Império Persa.

BIBLIOGRAFIA:

LAÊRTIOS, Diógenes. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. Trad. do grego, introd. e notas de Mário da Gama. 2. ed, reimpressão. Brasília: Editora UnB, 2008.

PETIT, Paul. História antiga. São Paulo: DIFEL, sem data.

ZENUN, Katsue Hamada e; MARKUNAS, Mônica.  História: Ensino Fundamental, 6a. Série/7º ano. 1a. Reimpressão. Brasília: CIB – Cisbrasil, 2006. (Coleção RSE, FH6A) [Rede Salesiana de Escolas]

Fontes Internet:




segunda-feira, 23 de maio de 2011

Roma Antiga

Profª Estela


A história da Roma Antiga estende-se de 753 a. C., quando a cidade foi fundada, até 476 da era cristã, com a queda do Império Romano do Ocidente. De uma simples aldeia de pastores-agricultores, colonizada pelos povos latinos, Roma transformou-se no império que mais influência exerceu sobre a cultura da civilização ocidental. 
Por causa de sua importância histórica inestimável, durante a II Guerra Mundial, ocupada pelos nazistas, Roma foi declarada “cidade aberta”, não podendo sofrer bombardeios ao seu patrimônio histórico e cultural, que pertence a toda a humanidade.

1. A fundação de Roma
1.1. As primeiras ocupações
A partir de 2000 a. C., povos indo europeus, aparentados com os arianos gregos, deslocaram-se para o centro e para o sul da Península Itálica. Esses povos, conhecidos como italiotas ou itálicos, formavam vários núcleos de povoação: latinos, samnitas, úmbrios, volscos e sabinos.
Os latinos fixaram-se na planície do Lácio, às margens do rio Tibre, onde praticavam a agricultura e o pastoreio. Viviam em comunidades primitivas, tendo como chefe o mais velho do grupo: o pater-família.
Na época da colonização pelos latinos, Roma era nada mais que um forte militar, construído para evitar a invasão de povos vizinhos.
A partir do século VIII a. C., os gregos, que começaram a colonizar o sul da península, já apresentavam notável desenvolvimento econômico e cultural. Nessa mesma época chegaram também os etruscos, vindos provavelmente da Ásia Menor, que ocupavam a planície a oeste do Tibre.
Ocupando toda a região do Lácio, os etruscos deram grande desenvolvimento à cidade de Roma. Empregaram novas técnicas, desconhecidas pelos latinos, e fizeram da agricultura a atividade econômica predominante. Foram os etruscos que desenvolveram atividades tipicamente urbanas, como o comércio e o artesanato, contribuindo assim para a transformação da aldeia em cidade, fundada em 753 a. C.

1.2. A lenda da fundação de Roma
A versão lendária da fundação de Roma, relatada pelo historiador romano Tito Lívio (59 a. C. a 17) em sua História de Roma e reforçada na obra Eneida, do poeta romano Virgílio (70-19 a. C.), conta que Enéias, príncipe troiano, filho de Vênus, ao fugir de sua cidade, destruída pelos gregos, chegou ao Lácio e se casou com a filha de um rei latino. Seus descendentes passaram a reinar em Alba, até que Amúlio matou o rei Numitor, seu irmão, apoderando-se do trono. Réia Silvia, porém, filha de Numitor, engravidou de Marte e deu à luz os gêmeos, Rômulo e Remo. Os gêmeos teriam sido jogados por Amúlio no rio Tibre, mas foram salvos por uma loba que os amamentou, sendo em seguida encontrados por camponeses. Quando adultos, os dois irmãos voltaram a Alba Longa, depuseram Amúlio e fundaram Roma, em 753 a. C. Após disputas pelo poder, Rômulo matou o irmão e se transformou no primeiro rei de Roma.

2. Estrutura social e política

As mudanças econômicas ocorridas em Roma desde as primeiras ocupações do terrritório conduziram a transformações na organização social. A sociedade romana possuía quatro classes sociais e políticas: os patrícios, os plebeus, os clientes e os escravos.


2.1. Os patrícios

Constituíam a camada social dominante, a aristocracia, proprietária das melhores terras. As famílias eram ligadas ao pater-família, de onde se origina a palavra “patrício” (cujo significado se refere a “pai”, ou pater em latim). Os patrícios se agrupavam em unidades denominadas gens ou clã, e eram assim chamados de gentes. Os membros de gens reuniam-se em torno do mesmo chefe e cultuavam o mesmo antepassado. Essa unidade compreendia os parentes pobres ou clientes e os patrícios agrupavam-se em associações religiosas chamadas cúrias.

2.2. Os plebeus

Todos os que não haviam nascido em gens eram considerados plebeus, que eram a maioria da população. Em geral a camada dos plebeus era formada por estrangeiros, comerciantes, artesãos e pequenos proprietários de terras pouco férteis.

2.3. Os clientes

Eram plebeus que conseguiram enriquecer, mas, para reivindicar a condição de clientes, tinham que se colocar sob a proteção legal de uma família patrícia. Em troca, prestavam determinados serviços e adotavam o mesmo culto religioso da família patrícia. Desse modo, conseguiam assegurar seu direito à propriedade perante as leis romanas.

2.4. Os escravos

Os escravos, em pequeno número na monarquia, limitavam-se aos serviços domésticos ou a atender às necessidades pessoais dos patrícios. Os primeiros escravos eram homens livres que não conseguiam pagar suas dívidas. Depois, com a política imperialista de Roma, passaram a ser os prisioneiros de guerra. Formavam a base da mão-de-obra romana.

3. Roma monárquica (753 a. C. a 509 a. C.)

O regime monárquico romano apresentava caráter divino – ou seja, o rei era considerado “o representante de Deus na Terra”. O rei acumulava a chefia militar, administrativa, jurídica e religiosa. Era eleito pelo Senado e governava durante toda a vida. Para governar, apoiava-se em duas instituições: o Senado, formado por um conselho de anciãos composto pelos patrícios mais importantes, e a Assembleia Curiativa, que reunia todos os patrícios adultos, membros das 30 cúrias romanas.

A eleição do rei envolvia um complexo sistema, onde cabia ao Senado selecionar um membro de cada tribo e à Assembleia Curiata escolher um entre os três candidatos selecionados para o cargo.

A partir de 625 a. C., Roma passou a ser governada por reis etruscos. O último deles, Tarquínio, o Soberbo, foi deposto e expulso da cidade em 509 a. C. pelos patrícios, descontentes com o apoio da realeza às classes empobrecidas. Nesse mesmo ano, os patrícios proclamaram a República.

4. A República Romana  (509 a. C. a 27 a. C.)

A base da República Romana era o Senado, formado por 300 patrícios, com a responsabilidade de propor leis. Os cargos eram vitalícios e a presidência do Senado era exercida por magistrado, podendo ser um cônsul, um pretor ou um tribuno. Havia os seguintes magistrados:

. Cônsules: Detinham o maior poder, equivalente ao dos antigos reis, e podiam convocar o Senado e presidir os cultos. Eram dois eleitos para o período de um ano: o cônsul armado, com atribuições de comandar o Exército, e o cônsul togado, responsável pela administração da cidade. Nos períodos de crise, os cônsules podiam indicar um ditador, que exercia o poder de forma absoluta durante o período máximo de seis meses.
. Pretores: Ministravam a justiça, existindo dois: um para as cidades, chamado de pretor urbano, e outro para o campo e para estrangeiros, chamado de pretor peregrino.
. Censores: Sua função era fazer o recenseamento dos cidadãos. Calculavam o nível de riqueza de cada um e vigiavam a conduta moral do povo.
. Questores: Encarregados de administrar as finanças públicas.
. Edis: encarregados das obras públicas.

Nessa época, as leis, que concediam grandes privilégios ao patriciado, não eram escritas, mas orais, baseadas na tradição e interpretadas pelos anciãos do Senado.

4.1. As guerras civis: patrícios versus plebeus

Os plebeus, descontentes com o monopólio do poder pelos patrícios (que controlavam o Senado, a Assembleia Curiata e as principais magistraturas, impedindo a nomeação de plebeus como cônsules ou censores), realizaram a primeira greve da história: em 494 a. C., retirando-se para o Monte Sagrado, ameaçaram formar ali uma nova república, deixando a cidade totalmente desprotegida e à mercê de possíveis invasores. Os patrícios foram obrigados a ceder, criando-se então os Tribunos da Plebe, cargo exercido exclusivamente por plebeus para defender os interesses da classe. Os Tribunos, cujo mandato era de um ano, podiam vetar todas as leis contrárias aos interesses dos plebeus, menos em época de guerras ou graves perturbações sociais, quando todas as leis ficavam sob controle exclusivo do ditador (cargo criado em 501 a. C., preenchido exclusivamente em crises econômicas ou militares. O ditador era nomeado pelos cônsules e detinha o poder absoluto pelo prazo máximo de seis meses). Os tribunos da plebe eram considerados invioláveis e quem os agredisse era condenado à morte.

Em 471 a. C., foi criada a Assembleia da Plebe, composta exclusivamente por membros das camadas inferiores para escolher seus próprios tribunos.

Em 450 a. C. houve nova revolta dos plebeus. Foram criadas novas leis, um pouco mais justas, que receberam o nome de Leis das Doze Tábuas e se tornaram o primeiro código de leis escritas em Roma. No entanto, a situação anterior pouco havia mudado. Entre as proibições mantidas, continuava vetado o casamento entre patrícios e plebeus, cuja finalidade era preservar a pureza do sangue patrício e, portanto, fixar seu direito exclusivo ao poder.
Certos de que, com os casamentos mistos poderiam quebrar a hegemonia patrícia, os plebeus passaram a exigir o fim dessa lei, o que foi atendido através da instituição da Lei Canuleia (445 a. C.). Mas seu efeito ficou bastante reduzido, já que essa lei permitia que somente patrícios em decadência se casassem com plebeus em ascensão econômica, beneficiando assim apenas os plebeus ricos. Também houve a Lei Licínia (367 a. C.), que anulava a escravidão por dívida e permitia o acesso da plebe à magistratura, e a Lei Hortência (287 a. C.), que assegurava os comícios da plebe.

A última revolta dos plebeus ocorreu em 247 a. C., quando os patrícios concordaram em que as leis votadas pela plebe na sua Assembleia tivessem validade para todo o Estado. Essas decisões foram chamadas plebiscito, o que significa “a plebe aceita”. Essas leis, na prática, continuaram a beneficiar apenas os plebeus ricos, principalmente os comerciantes, que formavam a classe dos cavaleiros, e que, por casamento, podiam almejar os melhores cargos da República. Os pobres continuavam explorados e sem direitos.

4.2. Os defensores dos plebeus: os irmãos Graco

Em 133 a. C., o tribuno Tibério Graco propôs a Lei Agrária, destinada a realizar em Roma a redistribuição de terras inativas (não cultivadas) entre os plebeus desempregados. Embora de origem nobre e rica, Tibério Graco, influenciado pela cultura grega e pela democracia ateniense, era defensor dos interesses dos plebeus no Senado. Retomou antigas leis, que nunca haviam sido postas em prática, referentes ao uso de terras públicas – as ager publicus. A propriedade deveria ser de até 125 hectares. As terrras que ultrapassassem esse limite voltariam ao Estado e seriam distribuídas aos mais pobres. Os patrícios, grandes proprietários de terras, boicotaram as propostas de Tibério Graco, que foi cercado no Capitólio por senadores e membros do partido dos nobres e massacrado, junto com 300 partidários, em 132 a. C.

Em 123 a. C., o tribuno Caio Graco, irmão de Tibério, reivindicou melhores condições de vida para a plebe e conseguiu que o Senado aprovasse a Lei Frumentária, que distribuía pão à plebe. Caio Graco pretendia também conseguir terras para a plebe, mas os cavaleiros, que também eram proprietários de terras, retiraram o apoio a Caio, impedindo assim a sua reeleição como tribuno. Tentando impor sua proposta pela força, o movimento foi reprimido e os principais discípulos de Caio, decapitados. Caio pediu a um escravo que o matasse.

5. As guerras militares: as conquistas territoriais na República Romana

 
Com o objetivo de aumentar a mão-de-obra escrava e atender assim aos interesses dos grandes proprietários de terras, a República romana foi marcada por conquistas imperialistas por novos territórios, que expandiram o domínio romano por toda a bacia do Mediterrâneo.

Os romanos levaram 230 anos para conquistar toda a Itália. As cidades latinas foram tomadas em 338 a. C. Cinquenta anos depois, os romanos anexaram toda a Etrúria Meridional. Entretanto, a expansão romana pelo continente foi interrompida pelos gauleses, que chegaram a saquear Roma. Após a saída dos gauleses, que ainda eram seminômades, os romanos conquistaram a  fértil planície de Campânia.

Os territórios conquistados pelos romanos na Itália não apresentavam uma organização uniforme. Havia uma imensa variedade de culturas e sistemas de governo, e em toda parte os romanos procuravam manter os vencidos unidos por uma confederação. Tentavam, assim, estabelecer uma ligação permanente entre o Estado romano e o resto da Itália, com a adoção de uma hábil política diplomática, que concedia o direito de cidadania a muitos povos conquistados. A construção de um sistema de estradas, que permitia o rápido deslocamento e a presença do forte exército romano em qualquer parte da Itália, também contribuiu para a tentativa de unificação do território.

5.1. A conquista do Mediterrâneo Ocidental: as guerras púnicas (264 a. C. a 146 a. C.)


Roma queria territórios, na região do Mediterrâneo Ocidental, que pertenciam a Cartago, ex-colônia fenícia fundada no século VIII a. C. na costa da África do Norte. Em 264 a. C., Roma entrou em guerra contra Cartago. Esta primeira guerra púnica (a palavra púnica se deriva do termo poeni, que era como os romanos chamavam os cartagineses) teve muitas batalhas que duraram 23 anos e das quais Roma saiu vitoriosa, na batalha da ilha de Égales. As forças cartaginesas, lideradas por Amílcar Barca, foram obrigadas a pagar um pesado tributo aos vencedores e entregar aos romanos as ilhas da Sicília, da Córsega e da Sardenha, os territórios em disputa.

Em 216 a. C., Aníbal Barca, filho de Amílcar, partiu de Cartago com uma formidável força de 60 mil homens, mais de dez mil cavalos e grande número de elefantes. O exército cartaginês rumou na direção norte e, depois de atravessar os Alpes, derrotou os romanos, conseguindo chegar perto de Roma. No entanto, aos poucos, o exército romano foi reconquistando posições até que, na Batalha de Zama, em 202 a. C., os cartagineses foram finalmente vencidos: perderam a Espanha e o resto da Península Ibérica e foram obrigados a entregar sua esquadra naval aos romanos.

A terceira e última guerra púnica ocorreu de 150 a. C. a 146 a. C. O general Cipião Emiliano foi enviado à África com um exército de 80 mil homens e reduziu Cartago a uma simples província. A cidade foi totalmente destruída, seus 40 mil habitantes, escravizados e as terras conquistadas, divididas entre os invasores. Com isso, Roma passou a dominar todo o Mediterrâneo Ocidental.

5.2. A conquista do Mediterrâneo Oriental (146 a. C. a 30 a. C.)

Após a última guerra púnica, os romanos decidiram intervir na Macedônia e em todo o Oriente Médio. Em pouco mais de 30 anos, ocuparam a Macedônia, a Grécia, a Síria e a Palestina. O Egito foi o último império Mediterrâneo a ser conquistado, sendo ocupado pelas tropas romanas em 30 a. C.

Roma passou a dominar toda a bacia do Mediterrâneo. Estabeleceu sua própria administração nas regiões conquistadas e em cada província colocou um governador (procônsul), designado para o cargo por um ano, mas que, na maioria das vezes, permanecia durante vários anos. O poder do procônsul era absoluto, exercendo tanto funções militares como civis. Apesar das guerras por territórios, a República romana respeitava as instituições e os costumes dos povos conquistados.

As práticas imperialistas de conquistas territoriais da República Romana tiveram como consequências o grande afluxo de riquezas para Roma, o aumento no número de escravos (que passaram a ocupar todas as atividades profissionais) e a expansão dos latifúndios (alguns  chegavam a 80 mil hectares). Por outro lado, prejudicou os pequenos produtores e provocou crises sociais devido ao grande desemprego entre os plebeus e ao êxodo rural.

Com a política imperialista pela expansão do território, a base da mão-de-obra romana passou a ser os escravos, capturados entre os povos vencidos. Eram  eles os responsáveis pela produção das grandes propriedades, que pagavam impostos ao Estado. Além dos impostos pagos pelos grandes proprietários, a economia romana sustentava-se também da cobrança de tributos das regiões conquistadas. Nesse contexto, a classe dos cavaleiros, plebeus que se dedicavam ao comércio de escravos e forneciam soldados para as campanhas militares, ascendeu economicamente.

6. O fim da República: o Pater Patriae Júlio César

O último século antes da era cristã, o século I a. C., é marcado por lutas ferozes entre patrícios e plebeus, das quais têm proeminência as atuações dos generais Mário, pelo lado dos plebeus, e Sila, defensor dos patrícios. Com a morte de Sila, assoma a figura de Júlio César, nobre que defendia a causa plebeia. Essas lutas, que iriam destruir lentamente as bases da República Romana, tiveram origem na velha reivindicação dos cavaleiros, antigos plebeus enriquecidos, pelo direito de ocupar cargos na magistratura e no Senado, o que lhes aumentaria o poder econômico. Vejamos suas origens.

6.1. O generais Mário e Sila: novas guerras entre patrícios e plebeus 
 

Após a morte dos irmãos Graco, a plebe aliou-se ao Partido Democrata, dos cavaleiros, contra os patrícios. O Partido Popular, facção radical do Partido Democrata, elegeu cônsul ilegalmente, por seis vezes consecutivas (105-100 a. C.), o general Mário, que havia conquistado muitas batalhas na África. Sila (ou Sula), seu antigo subalterno na África, tornou-se grande rival de Mário. A serviço dos patrícios, Sila sufocou diversas guerras sociais. A rivalidade entre Sila e Mário resultou numa violenta guerra civil que terminou com a morte de Mário em 86 a. C., quando Sila tornou-se ditador.

A viúva de Mário, Júlia, era tia paterna de Caio Júlio César, político de origem nobre mas com grande prestígio entre os plebeus. Além disso, Júlio César era casado com Cornélia Cinnila, filha de Lúcio Cornélio Cinna, aliado de Mário e inimigo pessoal de Sila. O ditador Sila havia ordenado o divórcio de Júlio César e Cornélia, mas não foi obedecido. Júlio César fugiu de Roma, só retornando com a morte de Sila, em 78 a. C. Em 69 a. C., Cornélia morre ao dar à luz um natimorto. Depois da morte de Cornélia, César casou-se com Pompeia, neta de Sila. Ainda em 69 a. C., Júlio César foi eleito questor pela Assembleia do Povo, aos 30 anos de idade, e em 65 a. C. foi eleito edil. O sucesso popular de Júlio César como edil ajudou na sua eleição para pretor, em 63 a. C.

6.2. O primeiro triunvirato (60 a. C.)

Após novo período de lutas, houve um acordo entre as classes. Em 60 a. C., formou-se o primeiro triunvirato (ou “governo dos três homens”), composto por Crasso, rico cavaleiro, Pompeu, representante dos patrícios, e Júlio César, que, apesar da origem nobre, apoiava os plebeus. Para confirmar a aliança, Pompeu casou-se com Júlia Césaris, única filha de César.

6.3. Mais guerras militares: as guerras gálicas de Júlio César (58 a. C. a 49 a. C.)

Júlio César tornou-se procônsul da Gália e seguiu para a região, como governador, combatendo com 150 mil homens, recrutados entre os germanos, nas Guerras Gálicas em 58 a. C.  Em 54 a. C., Júlio César realizou uma frustrada expedição à Grã-Bretanha, mas a 49 a. C. venceu os gauleses chefiados por Vercingetórix, estendendo o domínio romano até o Atlântico.  As crônicas das guerras gálicas foram registradas por Júlio Cesar na obra Comentarius De Bello Gallico (Comentários sobre a guerra da Gália). Segundo o historiador Paul Petit, “à custa da Gália conseguiu César uma imensa glória, sabiamente mantida pelos seus commentarii (comunicados redigidos com um sentido bem moderno de verdade e de propaganda...), soldados valorosos, riquezas enormes” (PETIT, s/d, p. 223).

Enquanto Júlio César lutava na Gália, Crasso foi morto em 53 a. C. na campanha da Pérsia. Rompendo o acordo do primeiro triunvirato, Pompeu aliou-se aos patrícios. Em 50 a. C., o Senado ordenou o regresso de Júlio César e a desmobilização de suas legiões, além de o proibir de se candidatar a nova eleição. Júlio César recusou-se a obedecer e, a 10 de janeiro de 49 a. C., atravessou o rio Rubicão, no norte da Itália, onde pronunciou a famosa frase Alea jacta est (“A sorte está lançada”). A seguir, conquistou Roma e a península Itálica, aniquilando as forças de Pompeu, que fugiu para a Grécia, mas foi perseguido e derrotado por César em Farsala em 48 a. C. Pompeu fugiu para o Egito, onde acabou assassinado por outros inimigos.

Júlio César chegou à Ásia em 47 a. C., onde obteve rápida vitória sobre Farnaces, rei do Ponto, comemorando com outra frase célebre Veni, vidi, vinci (“Vim, vi, venci”). Invadiu o Egito, intervindo na disputa dinástica a favor de Cleópatra, com quem teve seu único filho, o futuro Ptolomeu XV do Egito (Cesarion). De volta a Roma em 46 a. C., extinguiu o poder do Senado, decretando o fim da República, aniquilou sem piedade os últimos partidários de Pompeu e instituiu-se cônsul vitalício e ditador perpétuo, cognominado Pater Patriae, “Pai da Pátria”, além de chefe máximo do exército.

Durante seu governo, Júlio César agilizou o sistema de justiça, estimulou o crescimento econômico do Estado, aperfeiçoou o governo das províncias, impulsionou a romanização dos territórios dominados por meio de colonos, distribuiu terras entre os soldados, realizou construções monumentais e promoveu a celebração de festas populares. Escreveu vários trabalhos jurídicos e literários, além dos comentários sobre a guerra aos gauleses. Por ordem sua, foi criado o calendário juliano, resultante da reforma do calendário romano, e cujo mês de julho é uma homenagem a ele.

Em 15 de março de 44 a. C., Júlio César foi assassinado com 23 facadas, nas escadarias do Senado, por vários senadores liderados por Marco Júnio Bruto, seu filho adotivo, e Caio Cássio, republicanos que faziam oposição ao poder autocrático. De acordo com a tradição, ao ser atacado, Júlio César defendeu-se, até reconhecer Brutus, quando pronunciou sua última frase famosa: Et tu, Brute? (“Até tu, Brutus?”), abandonando a reação e sendo morto a punhaladas.

6.4. O segundo triunvirato (43 a. C.)

O assassinato de Júlio César provocou revoltas populares e novas lutas internas pelo poder. Em 43 a. C., houve o Tratado de Brindisi, que originou a formação do segundo triunvirato, reconhecido pelo Senado e composto por Otávio, sobrinho-neto e herdeiro adotivo de Júlio César, Marco Antônio, político e militar da confiança de Júlio César, e Lépido, cônsul da época de Júlio César. Otávio ficou com as províncias da Sicília e da África; Marco Antônio com a Gália Cisalpina; Lépido com a Gália Harbonesa e Hispânia. Mais tarde, uma nova divisão estabeleceu que Lépido ficava com a África, Marco Antônio com o Oriente e Otávio, com o Ocidente.

Otávio e Marco Antônio lideraram uma campanha contra Marco Júnio Bruto e Caio Cássio,  os assassinos de Júlio César, culminando no suicídio de ambos, em 42 a. C. Dois mil cavaleiros e 300 senadores, oponentes dos triúnviros, foram proscritos e numerosas propriedades confiscadas.

Em 37 a. C., Marco Antônio casou-se com Otávia, irmã de Otávio, para selar o acordo de paz entre ambos, renovando também o segundo triunvirato por mais cinco anos. No entanto, as  guerras internas prolongaram-se. Otávio afasta Lépido do poder, indicando-o somente para a função religiosa de sumo-sacerdote. Finalmente, o triunvirato foi dissolvido quando Marco Antônio divorciou-se de Otávia e pouco depois desposou Cleópatra, a quem Júlio César tinha nomeado rainha do Egito. Mediante o reconhecimento de Cesarion (Ptolomeu XV) como filho de Cleópatra e César, a posição de Otávio como único sucessor de Júlio César foi abalada e a guerra tornou-se inevitável. Otávio atacou Marco Antônio, acusando-o de traição e de tentar formar um reino independente de Roma. Derrotados na Batalha de Ácio em 31 a. C., Marco Antônio e Cleópatra fugiram, sendo perseguidos pelos exércitos de Otávio. Quando as tropas romanas tomaram Alexandria, em 30 a. C., Marco Antônio e Cleópatra suicidaram-se. Cesarion foi assassinado. Em 29 a. C., Otávio marchou triunfalmente sobre Roma, como Senhor único, recebendo os poderes repartidos até então entre os magistrados.


7. O Império Romano (27 a. C. a 476 d. C.)


O fim da República romana é datado em 27 a. C., ano em que Otávio César recebe o título de Augusto (“consagrado” ou “santo”), com o qual passa a ser identificado, e começa a governar oficialmente, sem parceiros, tornando-se o primeiro imperador de Roma e fundando a dinastia Júlio-Claudiana (que recebeu este nome devido aos casamentos idealizados por ele entre a sua família, os Julii, e os patrícios Claudii). Com a morte de Lépido, de causas naturais, em 13 a. C., Augusto assume também o controle sobre a religião, tornando-se máximo pontífice, com o consentimento do povo. Augusto não aceitou ser ditador, mas “princeps”, isto é, o “primeiro cidadão” em autoridade, fundando assim o principado romano e dando início a uma época de esplendor e prosperidade.

7.1. O Alto Império Romano (27 a. C. a 192 d. C.)

Embora detivesse o poder absoluto, Augusto não era despótico, dividindo com o Senado a responsabilidade de sua administração. Reorganizou o exército, que estabeleceu armas em todas as províncias, e passou também a cobrar impostos, impondo pela força a chamada Pax Romana ou Paz Augusta. Estendeu os domínios do Império Romano aos países situados ao sul do rio Danúbio e Reno, nas Germânias Inferior e Superior. Anexou toda a península Ibérica e a Panônia. No Oriente, anexou a Galácia e a Judeia, e também o Egito, que já estava sob domínio romano havia 40 anos. Foi durante o reinado de Augusto que nasceu Jesus, na província romana de Judá, na região da Galileia. Por essa época, o Império Romano, vasto e heterogêneo, possuía várias línguas e vários povos. O grego era a língua mais falada nos territórios orientais, enquanto nos territórios ocidentais se falava mais o latim. Com a expansão do Império Romano pela Europa, o latim foi progressivamente se misturando aos dialetos nativos, dando origem assim aos quatro principais troncos linguísticos românicos da atualidade: o português, o espanhol, o italiano e o francês. Graças à presença das “legiões” armadas nos territórios conquistados, Roma conheceu uma expansão territorial jamais antes imaginada.

No campo administrativo, Augusto facilitou o ingresso da classe dos cavaleiros na alta administração; criou novos impostos sobre as heranças e sobre as vendas; aperfeiçoou o sistema de justiça e desenvolveu um sistema de correio especial, que lhe dava um controle mais eficaz da administração pública. No campo social, aboliu o critério de nascimento utilizado até então para hierarquizar a sociedade, e introduziu uma escala econômica, pela qual os cidadãos teriam direitos políticos proporcionais ao bens. Remodelou o traçado urbanístico de Roma, dividindo a cidade em bairros e ruas. Augusto também fundou bibliotecas públicas. Em sua época, a literatura latina adquiriu independência e se tornou uma das mais brilhantes do mundo ocidental. Após sua morte, em 14 d. C., Augusto foi divinizado. Deixou uma autobiografia, escrita em placas de bronze, conservadas até os dias de hoje.

7.1.1. A dinastia Júlio-Claudiana (14 d. C. a 68 d. C.)


A dinastia Júlio-Claudiana teve continuidade com Tibério, filho adotivo de Augusto. Tibério foi um administrador eficiente, mas tornou-se paranoico com conspirações, chegando a retirar-se para a ilha de Capri em 26 d. C., de onde passou a governar por procuração até o fim da vida. Mandou executar senadores e grande parte de sua própria família, o que o tornou impopular. Calígula, sobrinho-neto de Tibério, o sucedeu a partir de 37 d. C. Apresentando sintomas de desequilíbrio mental, também perseguiu senadores. Foi assassinato por um guarda pretoriano em 41 d. C.

Cláudio, sobrinho de Tibério, foi imperador entre 41 e 54 d. C. Em seu governo, mais calmo que o dos seus antecessores, Roma recuperou-se dos excessos de Calígula, mesmo com os ambiciosos projetos do imperador. Entre estes, contam-se a expansão do porto de Ostia e a construção de várias obras públicas. Com Cláudio, Roma também conquistou as Ilhas Britânicas em 43 d. C., criando a província romana da Britânia e a Mauritânia (no norte da África). Tomou parte na invasão da Bretanha e acrescentou o título de Britannicus aos nomes de seus filhos, para indicar a possessão romana da nova região. Cláudio, nascido na Gália, foi o primeiro imperador romano de fora da Itália. Casou-se quatro vezes e morreu em 54 d. C., provavelmente envenenado por Agripina, sua última mulher e sobrinha.

Nero, filho de Agripina e enteado de Cláudio, foi o último imperador da dinastia Júlio-Claudiana. Com a morte de Cláudio em 54, Nero foi proclamado imperador sem oposição. Instável e paranoico, ordenou inúmeros assassinatos, entre eles o da própria mãe, Agripina, em 59 d. C., e da primeira esposa, Cláudia Otávia, filha de Cláudio, em 62 d. C. Em 64 d. C., um grande incêndio destruiu dois terços de Roma. O incêndio começou no dia 18 de julho e durou seis dias, alastrando-se por toda a cidade, que possuía várias residências de madeira. Nero acusou os cristãos pelo incêndio e muitos deles foram lançados aos leões, abrindo uma fase de perseguição aos cristãos durante a qual São Pedro e São Paulo foram martirizados. Aproveitando as obras de reconstrução de Roma, Nero utilizou fundos públicos para a construção de um palácio suntuoso, a Domus Aurea, ou Casa Dourada. Em junho de 68, após uma revolta popular em que foi acusado de ser o verdadeiro responsável pelo incêndio, Nero foi declarado persona non grata pelo Senado, inimigo do Estado e fora-da-lei. Fugiu de Roma, acompanhado apenas pelo seu secretário. Antes de ser alcançado pela guarda pretoriana, suicidou-se.

7.1.2. A dinastia Flaviana (69 a 96)

Com a queda de Nero e o fim da dinastia Júlio-Claudiana, Galba, Otão e Vitélio, três generais, se revezaram no poder em 69, conhecido como o “ano dos quatro imperadores”. O último dos “quatro” foi Vespasiano, rico comerciante italiano originário da classe dos cavaleiros, que coroou-se imperador e fundou uma nova dinastia, a Flaviana, representante dos donos de escravos. Vespasiano governou de 68 a 79. Restaurou a paz e as finanças, reformulou o Senado, desenvolveu a educação e iniciou a construção do Coliseu de Roma, também chamado de “Anfiteatro Flaviano”, inaugurado somente em 80. No ano de 70, Vespasiano esmagou a revolta judaica, destruindo Jerusalém e expulsando os judeus da Palestina. Foi sucedido no poder pelos seus filhos Tito e Domiciano. O governo de Tito, de 79 a 81, foi marcado pela catástrofe do vulcão Vesúvio, em agosto de 79, que destruiu as cidades de Pompeia e Herculano, e ainda por novo incêndio de Roma, ocorrido em 80. Domiciano, o último dos "doze césares", foi imperador de 81 a 96, num reinado intolerante, de perseguição aos cristãos. Acabou assassinado numa conspiração de sua própria família.

7.1.3. A dinastia dos Antoninos (96 a 192)

A dinastia dos Antoninos iniciou-se em 96, quando, após a morte de Domiciano, o Senado nomeou Nerva imperador, e terminou em 31 de dezembro de 192, com o assassinato de Cômodo. O período de 96 a 180 da dinastia Antonina é conhecido como a era dos “cinco bons imperadores”: Nerva (96 a 98), Trajano (98 a 117), Adriano (117 a 138), Antônio Pio (138 a 161) e Marco Aurélio (161 a 180). Neste período, o Império Romano chegou ao apogeu: atingiu sua maior extensão territorial, conheceu grande prosperidade econômica, gozou de paz interna e foi administrado com eficiência. Com Nerva, que não tinha filhos, iniciou-se uma sucessão no poder baseada não em laços familiares, mas no critério de escolha do mais “capaz”, que era adotado pelo imperador como seu herdeiro e sucessor. Marco Aurélio, porém, interrompeu essa política de sucessão, nomeando não o “mais apto”, mas seu próprio filho Cômodo, que governou de 180 a 192 e foi considerado um dos piores imperadores romanos. Cômodo, apesar de tolerante com os cristãos, tinha gosto pelos violentos espetáculos de gladiadores, dos quais chegava a participar pessoalmente. Com a sua morte, teve fim a dinastia dos Antoninos, mergulhando o Império Romano num período de grande instabilidade política.

           (Auge da extensão territorial do Império Romano, em 117 da era cristã.)

7.2. O Baixo Império Romano (193 a 476 d. C.)

7.2.1. A dinastia dos Severos (193 a 235)

Depois da morte de Cômodo, Sétimo Severo, vencendo lutas internas pelo poder, tornou-se imperador, de 193 a 211, transformando o Império Romano numa monarquia militar, após o  longo período da paz estabelecida por Augusto e continuada por seus sucessores.

A política de paz do império teve reflexos, sobretudo a partir do final do século II d. C., na redução da oferta de escravos, que formavam a base da economia romana, e cuja escassez não foi superada com a compra de novos contingentes nas regiões de fronteira. O preço dos escravos disparou, chegando a representar mais de dez vezes o seu custo inicial. A produção dos grandes latifúndios começou a declinar, provocando quedas nos impostos recebidos pelo Estado, que viu-se obrigado a tomar uma série de medidas: a plebe urbana, deixando de ser beneficiada com a política de “pão e circo”, passou a trabalhar no campo; os gastos com a corte imperial foram limitados; o valor dos impostos aumentou e quem não pudesse pagá-los fugiria para o campo; finalmente, as legiões de soldados foram reduzidas.

Como saída para a crise, os proprietários rurais estabeleceram um novo sistema: os trabalhadores arrendariam dos proprietários pedaços de terra para seu próprio sustento. Em troca, trabalhariam alguns dias na semana para o proprietário. Assim, a produção de alimentos para consumo interno tornou-se autossuficiente, mas a produção de excedentes para o comércio ficou prejudicada. Gradativamente, tornaram-se colonos os plebeus urbanos, os bárbaros que fugiam das guerras germânicas, os pequenos proprietários agrícolas e os escravos que conseguiam obter seu pedaço de terra. Roma, a essa altura, deixou de ser o centro do Império e o núcleo econômico passou a ser a vila, onde os grandes proprietários rurais, protegidos por construções fortificadas, dirigiam a vida econômica, social e militar de toda a propriedade. Esse processo de ruralização econômica e de descentralização política, ao mesmo tempo em que enfraquecia o Império Romano, preparava o surgimento do feudalismo, que iria dominar durante toda a Idade Média.
Alexandre Severo, último imperador da dinastia dos Severos, governou de 222 a 235 e enfrentou invasões de povos bárbaros, como os persas sassânidas, no Oriente, e os germânicos e gauleses, pelo lado ocidental.

7.2.2. A era da anarquia: os imperadores-soldados (235 a 284)

De 235 até 284, o Império Romano passou a ser governado por militares que se revezavam no poder, numa verdadeira anarquia militar em que imperadores eram assassinados, mortos em batalha ou por seus rivais. Esse período, conhecido como “Crise Imperial”, foi caracterizado por usurpações, assassinatos e fragmentação. Teve, ao todo, 60 imperadores, sendo o primeiro, Maximino, o Trácio, e o último, Nigriniano. O período enfrentou ainda a peste bubônica que alastrou-se em Roma, sobretudo em 252, vitimando a população.

7.2.3. O governo de Diocleciano (285 a 305)

Em 285, Diocleciano, um cônsul militar de origem humilde, assumiu o império após diversas lutas internas. Pôs fim à fase desastrosa e introduziu, em 293, a Tetrarquia, sistema pelo qual o Império era governado ao mesmo tempo por quatro imperadores, dois deles com o título de Augusto, e dois com o de César, embora Diocleciano, um “Augusto”, continuasse a ser o chefe do Estado. Diocleciano também estabeleceu o Dominato, monarquia despótica e militar, de tipo helenístico, que durou até 565. Em seu governo, Diocleciano dividiu o império entre os setores orientais (pars Orientis) e ocidentais (pars Occidentis), mantendo o controle pessoal do setor leste, enquanto Maximiliano controlava o ocidente. Impôs o uso do latim como língua administrativa nas províncias gregas e procurou conter a alta dos preços e salários. Restabeleceu o culto aos deuses antigos e empreendeu a última grande perseguição aos cristãos, tornando o seu governo conhecido com a “era dos mártires”. Em 303, um edito imperial ordenou a destruição de igrejas e a destituição de funcionários cristãos. Um segundo edito ordenou a prisão geral do clero, enquanto um terceiro previa a libertação dos cristãos em caso de apostasia. O quarto e último edito, de 304, ordenava toda a população do Império a sacrificar aos deuses, sob pena de morte ou trabalhos forçados em minas. Em 305, juntamente com Maximiliano, Diocleciano abdicou, retirando-se para Salona.


7.2.4. O governo de Constantino (316 a 337)

Após a abdicação de Diocleciano e Maximiliano, teve início uma guerra entre os Augustos e os Césares nomeados para exercerem a tetrarquia. A anarquia se instaurou. Em 312, na Batalha da Ponte Míliva, Constantino derrotou Maxêncio. De 316 a 323, Constantino governou o Ocidente e Licínio, o Oriente. A partir de 323, Constantino passou a governar sozinho, até a sua morte, em 337.

Enquanto isso, o cristianismo encontrava-se em franca expansão pelo Império, com a adesão de plebeus, mulheres e escravos. O monoteísmo e o pacifismo cristãos, contrários ao militarismo e à configuração divina do imperador, minavam cada vez mais as bases do Império Romano. Finalmente, em 313 d. C., pelo Edito de Milão, o imperador Constantino deu liberdade de culto aos cristãos. Constantino fundou ainda a Nova Roma, na cidade de Bizâncio, na Turquia, que, após sua morte, seria batizada de Constantinopla.


7.2.5. A perseguição aos pagãos: o Massacre da Tessalônica


Com Teodósio I, imperador de 379 a 395, o Cristianismo tornou-se a religião oficial do Império Romano, obrigatória para todos os súditos pelo Edito de 380. A decisão, porém, não foi aceita uniformemente por todo o Império, pois o paganismo ainda tinha um número significativo de adeptos. Teodósio I sancionou leis proibindo cultos helênicos e publicou decretos que condenavam à morte quem praticasse a homossexualidade ou a pederastia, práticas pagãs. Em 388, após a prisão de um atleta de Circo por homossexualidade, que resultou em revolta popular e morte do chefe da infantaria de Tessalônica, Teodósio ordenou o massacre do povo, quando este estivesse reunido no circo, episódio que ficou conhecido como o Massacre da Tessalônica. O Bispo Ambrósio recriminou o imperador, submetendo-o a uma penitência que se tornou o primeiro exemplo da submissão de um imperador ao poder espiritual.

8. A divisão do Império Romano e a queda de Roma


Teodósio I foi o último imperador a reinar sobre todo o Império Romano. Após sua morte, em 395, seus filhos, Arcádio e Honório, dividiram definitivamente o Império Romano em duas partes: Arcádio, que governou de 395 a 408, ficou com o Império Romano do Oriente, ou Império Bizantino, com a capital em Constantinopla, enquanto Honório governou, de 395 a 423, o Império Romano do Ocidente, primeiramente com capital em Milão, e mais tarde em Ravena.

O Império do Ocidente sofreu sucessivas invasões de povos bárbaros. Em 410, o rei godo Alarico saqueou Roma. Em 452, liderados por Átila, os hunos invadiram a Península Itálica, mas, persuadidos pelo Papa, não chegaram a Roma, sendo derrotados nos Campos Catalúnicos. O último imperador do Ocidente foi Rômulo Augustus, de apenas 15 anos de idade, deposto pelo germânico Odoacrus, rei dos hérulos, no ano de 476. Esta data marca a queda do Império Romano do Ocidente, pondo fim à Antiguidade e iniciando a Idade Média. Após a ruína, a capital do Império Romano foi transferida para Constantinopla, onde prolongou sua existência, com diversas vicissitudes, por cerca de um milênio, até a Tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos, em 1453.

Bibliografia:

PETIT, Paul. História antiga. São Paulo: Difel, s/d.

ZENUN, Katsue Hamada e; MARKUNAS, Mônica.  História: Ensino Fundamental, 6a. Série/7º ano. 1a. Reimpressão. Brasília: CIB – Cisbrasil, 2006, p. 80-103. (Coleção RSE, FH6A) [Rede Salesiana de Escolas]

Fontes internet: